sábado, 9 de novembro de 2013

O DESAFIO DE SER DISCÍPULO : CALCULANDO O PREÇO





Por Marcos Aurélio Dos Santos


Quando andavam pelo caminho, um homem lhe disse: "Eu te seguirei por onde quer que fores". Jesus respondeu: "As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça".  A outro disse: "Siga-me". Mas o homem respondeu: "Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar meu pai".  Jesus lhe disse: "Deixe que os mortos sepultem os seus próprios mortos; você, porém, vá e proclame o Reino de Deus".  Ainda outro disse: "Vou seguir-te, Senhor, mas deixa-me primeiro voltar e me despedir da minha família".  Jesus respondeu: "Ninguém que põe a mão no arado e olha para trás é apto para o Reino de Deus”. (Lc 9.57-62.NVI).

Todo indivíduo que pretende seguir a Cristo certamente deve calcular o preço do discipulado. Ele deve tomar e levar a cruz do dia a dia (Lc 9.23) deverá perder primeiramente a sua própria vida para poder ganha-la (Lc 9.24-25) e nunca deverá se envergonhar das palavras de Cristo (Lc 9.26).  O chamado para o discipulado é um chamado de renúncia, na qual o novo homem é desafiado a viver um novo estilo de vida, a saber, uma nova vida que imita Cristo, caminhando para o alvo da perfeição, desejando ser semelhante ao seu Mestre ( Ef. 5.1; 1Cor. 11.1; Hb 10.14).

O médico Lucas em seu evangelho relata neste texto o diálogo de Jesus com três pretendentes seguidores. O primeiro euforicamente entusiasmado desejava seguir a Jesus por todos os lugares (v 57), mas Jesus lhe advertiu sobre o desafio de desprender-se de bens terrenos e passar a valorizar os benefícios celestiais oferecidos por ele por intermédio de sua maravilhosa Graça (v.58).

Deveria segui-lo não porque ele alimentava as multidões com pão e peixe, libertava os cativos, curava os enfermos, leprosos e fazia milagres, mas porque ele era o Cristo, o Senhor e Salvador do mundo, o Deus encarnado. Segundo a resposta de Jesus, ao que parece, Provavelmente aquele homem buscava a Cristo para satisfazer seus próprios interesses, certamente motivado pelos desejos terrenos que de alguma forma o influenciou a procurar Jesus por razões interesseiras. Veja também Mt. 6.25-34

O segundo pretendente coloca uma condição. Ele deseja primeiro sepultar o pai. No pensamento da tradição judaica, sepultar o pai resultava em recompensa tanto nesta vida, como na vida vindoura e certamente o candidato judeu cria na tradição. Mas Jesus aponta para a urgência da anunciação do evangelho. Ele diz: Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos. Tu porem vai e anuncia o Reino de Deus (v.60).

A propagação do Reino de Deus estaria acima de toda tradição religiosa. Os ritos, as festas, os dias, o culto no templo, em fim, tudo deveria tomar um novo aspecto com a chegada de uma nova era, a instalação de um Reino onde a Graça salvadora de Cristo invadiria os corações dos homens (Mar.12.33; Lc.10.27;Jo.4.24).  A chegada do novo Reino almejava novos horizontes, novas perspectivas, Estava chegando as Boas Novas do evangelho em Cristo Jesus.

Jesus insiste em dizer que para ser discípulo, o indivíduo deve enxergar o novo, pois todas as coisas se fizeram novas e o velho homem foi sepultado. Nele, o velho seria renovado (Cl. 3.10). A resposta do candidato ao discipulado pedindo um tempo para resolver suas questões religiosas, demonstra sua falta de chamada e despreparo para ser discípulo. Jesus rejeita os querem segui-lo colocando os valores terrenos acima dos valores espirituais.

O terceiro também sofre rejeição da parte de Jesus. O “discípulo” coloca a condição de primeiro despedir-se de seus familiares (v.61). Em resposta, Jesus afirma que aquele que uma vez lança mão do arado ( que passa a servir na seara) e olha para traz, não está apto para ser discípulo (v62). Olhar para traz implica em olhar para o velho homem e com remorso desejar retornar a velha vida. Veja Gn. 19.26. O verdadeiro discípulo deve estar disposto a se despir do velho homem e revestir-se do novo (Ef. 4.24), caminhando para uma maturidade que o leve a refletir a imagem de Cristo em sua vida. Olhar para traz o torna o pretendete desqualificado para ser aluno da escola do mestre Jesus Cristo, nosso Senhor e Salvador.

A igreja evangélica brasileira de nossos dias tem um grande desafio pela frente. Gradativamente os evangélicos vêm perdendo sua identidade de verdadeiros discípulos. Calcular o preço é uma idéia que está distante das convicções doutrinárias de muitos crentes. Muito de nossos sermões são programados e elaborados para satisfazer o gosto da clientela, pouco de fala sobre arrependimento, vinda de Cristo, arrebatamento, santificação, maturidade cristã, ao contrario, a pregação deve trazer palavras de benção, de preferência, benção material, sem falar nos apelos em sermões da teologia da prosperidade que extrapola o bom senso, oferecendo o evangelho de Cristo, como se fosse mercadoria vendida em qualquer mercado.

 Euforicamente apressamo-nos para realizar nossas festas eclesiásticas, mas a passos de tartaruga pretendemos pregar as boas novas do Reino, acolher os necessitados, visitar os enfermos. Há ausência de prioridade quanto às coisas do Reino, sempre têm algo relacionado a esfera terrena em primeiro lugar para realizar. Grande é este desafio.


Precisamos urgentemente retornar ao primeiro amor. Voltar às catacumbas, buscar primeiro o Reino de Deus e sua justiça, calcular o alto preço que foi pago mediante o sacrifício vicário de Cristo, buscar a santidade, o amor, a compaixão, a paz, o poder do Espírito para testemunhar de forma eficaz o nome de Cristo, fazer diferença como verdadeiros discípulos demonstrando as virtudes Cristãs no acolhimento, no servir, no compartilhar, na hospitalidade, no afeto e nos atos de misericórdia.

Que possamos encarar esse desafio como benção para nós aguardando diligentemente a vinda de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo que pela sua maravilhosa graça nos deu vida eterna. Toda honra e toda glória seja dada a ele pelos séculos dos séculos, Amém.